
Quando o(a) aluno(a) pergunta “como se faz tal coisa”, devemos ler literalmente: “me forneça a receita do bolo”. O problema é que, enquanto educadores, temos visão de que “dar a receita” equivale a dar a rede sem ensinar a pescar. Pior ainda: o mau uso da “rede” vai afetar o “meio ambiente” (pescar na época de procriação dos peixes vai acabar com a pescaria no futuro) e depois o dono da rede se volta contra o fornecedor: (“você me ensinou a pescar errado”). Não adianta dizer depois que “dei o que você me pediu: a rede. Não aula de pescaria”. Alguém tem de levar a culpa pelo mal feito.
Um dos motivos deste estado de coisas é o fascínio que a tecnologia exerce sobre as pessoas. Todos nós ficamos fascinados pelo que não conhecemos, a tecnologia entra nesse contexto. O seu avesso, curiosamente poucos discutem: tecnologia antiga é desprezada pelos profissionais do ramo, independente de funcionar a contento para solucionar alguns probemas (vide o CGI, fartamente utilizado em formulários simples).
Tive um aluno que, como autodidata, vinha às aulas só para “tirar dúvidas” sobre o que aprendeu sozinho*. Como alguém que aprendeu a dirigir sozinho e pergunta para o motorista profissional o que caiu na prova da auto-escola. Ayrton Senna não se tornou campeão desse jeito, pode ter certeza...
Tive uma cliente que se aborrecia com explicações “corretas” (ou longas) e, como não tem muito método de estudo, eu acabava recebendo mais de uma vez para explicar a mesma coisa. A certa altura bateu a dor na consciência e coloquei as explicações por escrito. Receita de bolo mesmo. Resolveu. Perdí a cliente? Não, pois fazer um site não é colecionar receitas de bolo, e sim articular conhecimento – ou receitas de bolo – para realizar um projeto, ou seja, um conjunto de objetivos.
É neste ponto que desejo chegar: se fornecermos a explicação “correta” somos taxados de prolixos e pouco objetivos; se fazemos a vontade do cliente, dando a explicação pelo meio, o erro se voltará contra nós no futuro...
O que fazer então? Acho que a solução está em primeiro explicar onde a pessoa vai chegar com a explicação “pelo meio”. Depois, se a pessoa concordar com os problemas que ela vai ter, dar o que se pediu. Normalmente a pessoa se rende aos fatos e:
- desiste da explicação
- aceita ouvir a explicação do começo ao fim
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* Pierre Lévy numa palestra no SESC/SP em 2002 propôs a idéia de que hoje em dia a multiplicidade de meios de comunicação (internet; rádio; tv a cabo, digital e aberta; cinema; DVD; CD; áudio cassete e digital) permite que se obtenha conhecimento tão válido quanto o ensino formal. Claro que Lévy faz crítica ao modelo de ensino tradicional, instrucionista (unidirecional). Quando se faz essa afirmação devemos ter em conta o tipo de formação obtida por multimeios: autodidata ou com orientação? Individualizada ou socializada? Superficial ou aprofundada?
A grande crítica que se faz ao ensino tradicional é oferecer um aprendizado focado em úma única fonte ou ponto de vista, coisa que não ocorre no mercado de trabalho, por exemplo. O grande defeito do autodidatismo é o mesmo, só que por via oposta: a possibilidade nada remota de reunir informação de diversas fontes não respaldada pela sociedade, coisa que não ocorre na academia.
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