
São longas reportagens falando da vida, da relevância, da obra e do futuro agora encerrado da jovem Yumi e de seus colegas de classe média alta que morreram por causa desses malditos temporais.
Justa homenagem, afinal, eram vidas relevantes para o futuro da nação, que agora se encerram e não estão mais entre nós. Nada mais correto do que a mídia global deslocar mais de 50 profissionais para cobrir os resgates e surgirem ações de caridade de famosos (1, 2) pedindo doações para as vítimas da tragédia no sul do estado. Conheço Angra e muitas pessoas gentis de lá, que não mereciam esse sofrimento. Se puder, ajude!
Eu gostaria, neste momento de perdas, de homenagear também a família Fordido(*) que não foi lembrada, mas que padeceram "do mesmo mau". As malvadas tempestades e os terríveis desabamentos também levaram o Senhor José Fordido(*), Dona Maria Meseravel(*) e seus quatro filhos, conhecidos apenas como Fordidinho Júnior(*), Ferrardino Parrapado(*), a jovem Remelenta Escórrida(*) e o mais velho, Maupagu Sobrandu(*).
Da mesma forma que a família da jovem Yumi, eles ocupavam clandestinamente uma área de risco, só que não a exploravam comercialmente nem recebiam gente importante na casa deles no fim de ano. Aliás, o fim de ano também foi em meio às águas, mas não do mar de Angra e sim do valão de esgoto que encheu em Caxias, Nova Iguaçú, ou seja, lá onde esses miseráveis moravam. Quem se importa? Não eram relevantes...
Como eles não tinham tanta relevância para a sociedade só foram filmados lá do alto, de um helicóptero global que passou rapidamente em rasante e nem deu tempo de acenar para o tio Bonner. "- Oi grobo! Tamo aqui pegando leptospirose! Galvão! Filma nóis!"
De alguns mortos relevantes em Angra, ouvimos os nomes, vimos fotos, clipes no Youtube, homenagens no Orkut, acompanhamos os enterros em horário nobre e depoimentos de familiares, amigos relevantes e das autoridades que se prontificaram para que tragédias como esta não mais ocorram. Alguns burocratas que deram entrevista já pensam criar a ecologiamente correta "Fundação Yumi" que, com recursos do governo, pretende impedir que chova no reveilon e assim, novas tragédias como esta não acontecerão.
Da família Fordido(*), só se sabe que todos morreram no meio dos tijolos e da lama. Foram achados depois que bombeiros e vizinhos cavaram "à mão" e nem sabemos se foram enterrados. Mas agora mortos, eles tem sua relevância, pelo menos para os vizinhos que foram avisados que seus barracos estavam em "área de risco" e foram todos demolidos "por escavadeiras". Foram todos para uma escola caindo aos pedaços e até agora não chegou nenhuma doação relevante.
Isso tudo me lembra de outra tragédia recente onde um parente distante morreu, junto com mais umas trinta pessoas em um ônibus
Que pena, não foi dessa vez! Não houve espaço na programação, pois o Bonner precisou falar o nome e sobrenome de todos, mostrar fotos e entrevistar famílias e autoridades relevantes das cinco pessoas relevantes que morreram na relevante queda de um jatinho executivo em algum lugar relevante...
Ficamos nos perguntando: "- Porque esse zé mané não foi de jatinho? Pelo menos apareceria na Globo e seria relevante!"
Os mortos já se foram... Ficaram saudades... Meus pesares a todos: aos familiares, amigos, conhecidos, vizinhos, desabrigados, ricos, pobres, miseráveis e sofredores de Angra, de São Paulo, da baixada fluminense... Que 2010/2011 seja muito mais relevante para todos, todos nós, sem discriminações...
Relevância é a palavra do momento! Que nos diga do Sr. Google!
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Nota: O amigo e colaborador Wallace Vianna tem uma série de posts relevantes, chamados de "Reflexões" que costumo comentar com minhas "Deflexões" na forma de uma brincadeira (ou sério mesmo!), daí "o nome" do post. Mas, dessa vez, como o assunto é relevante preferi fazer umas "deflexões" à parte...
(*) Pessoas genéricas e irrelevantes.
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